Lélia de Macêdo Rocha
Lélia de Macêdo Rocha nasceu em Barreiras em 26 de junho 1944. Foi uma das fundadoras da Academia Barreirense de Letras e dentre outras instituições em que atuou, participou também da criação da Associação dos Amigos da Natureza (Amina) e do Instituto São Francisco de Arte e Cultura (Isfac).
Formada em Psicologia se aposentou como funcionária pública da 10ª Ciretran. Porém, ficou imortalizada como ativista social, cultural e ambiental, deixando sua marca nestas áreas, principalmente durante os 12 anos que esteve na coordenação do departamento e da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do município.
Deixou um legado construído em apoio às tradições populares com fortalecimento e resgate de manifestações como o Nazaro e Terno de Reis. Também impulsionou o teatro e outras expressões artísticas.
Biografia
No quesito memória, teve atuação importante na instalação do Museu Municipal Napoleão de Mattos Macedo. Em 1996 publicou o livreto “Dicionário de Barreirês”, onde compilou palavras e expressões típicas do conversar regional, para assegurar este conhecimento para as futuras gerações.
Reconhecida como uma animada carnavalesca, foi criadora de grupos tradicionais no carnaval como o Bloco da Rola e Oi nóis aqui traveiz. Também teve participação no processo de criação do circuito Agnaldo Pereira e grande influência para o fortalecimento do circuito Zé de Hermes, com o carnaval da saudade.
dentre outros trabalhos de parceria vale registrar a programação da festa de Iemanjá; as ‘Sextas Culturais’; Feira de Artesanato e Cultura do Oeste Baiano; Museu e Biblioteca Itinerantes; lançamento de livros e discos, projetos ‘Cinema na Comunidade’ e Cinema na Praça’.
Junto com Durval Nunes, criou e realizou o projeto da Oficina de Criação Artesanal (Oca), onde funcionaram os projetos: Mulher Rendeira, Curti-couro, Cerâmica, Madeira, Cestaria e Charqueado. Também participou da implantação da Escola de Música Antoninho Sampaio e da criação da Filarmônica 26 de maio.
Na ABL ocupou a cadeira 09, desempenhou o cargo de Tesoureira teve como patrono Modesto de Abreu. Faleceu no dia 13 de dezembro de 2017. A seguir publicamos a poesia do poeta barreirense Clerbet Luiz, ‘O carnaval sem Lélia Rocha’, extraído da coluna Palavreado Barreirense, do portal Fala Barreiras
Lélia,
não te conheço
de outros carnavais:
quando eu ia
com a lata,
você já vinha
com os cajus;
quando quis te
ver princesa,
você já estava rainha
do carnaval.
Não te conheço
de outro cais:
quando eu ia descendo
a rampa,
você já subia
ribeirinha;
quando me entendi
como tampa,
você já era balaio,
rainha,
e agora é que caio
no Allah-la ô ô ô ô.
Não te conheço
de outros carnavais;
te conheço
da mesma micareta
que habita sua alma
sem mutreta.
Não te conheço
dentro desse silêncio
de rosto anônimo
oculto no lenço
de uma moça árabe
que requebra a
dança do ventre;
Não te conheço
dentro de um silêncio
que beira o cais;
te conheço
beiradeira
de mil gritos de
carnavais.
A dança é só
da cintura pra baixo;
nu
da cintura pra cima
é o silêncio,
que cisma em
não mostrar o rosto;
seu silêncio
é de uma moça árabe
numa dança de ventre
no deserto;
seu silêncio é anônimo
e sem cara
como um rosto de Nazaro,
só se vê o corpo
da cintura pra baixo
no movimento do
ventre;
a tempestade de
areia de um deserto
(redemoinho do tempo
no oeste da Bahia)
ocultou seu sorriso,
e era justamente
atrás de um lenço
e burca na face
que encobrias o rosto
em fantasias
de outros carnavais.
E foi com
fantasia de moça árabe
que atravessaste
o deserto do Saara?
que cruzaste este
mundo
para outro mais caro?
O sol estava quente
que queimou a sua cara?
Allah-la ô ô ô ô ô ô ô.
(Texto produzido com informações de familiares, que também cederam as fotos, na pessoa da filha Lilian)